quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A arte de ler II

Então, como eu dizia nos primeiros parágrafos do último post, fiz algumas compras na última feira do livro de Pisa, o famosíssimo Pisa Book Festival. E como de vez em quando gosto de fazer listas, comentários e críticas sobre livros e autores que mal conheço ou que nunca li, eis uma oportunidade imperdível! (só para complementar, ainda não terminei de ler nenhum dos livros do outro post. Mas estou chegando no final do primeiro).

To build a fire e Lost Face de Jack London: São dois contos do famoso escritor e, o melhor, para tradutores iniciantes como eu, é bilíngue. Original em inglês, tradução em italiano. Nunca li nada do Jack (London), mas segundo o meu primo doidão Eduardo é um autor dos bão. Então comprei, uai!

La felicità è un paio di stivali de Machado de Assis: Sim eu sei, não faz o menor sentido ler Machado de Assis em italiano se eu consigo ler em português (acho que eu ainda consigo). Mas a tradução foi feita por uma ex-professora de italiano e colega tradutora, que me deu muito apoio no mestrado, então não poderia deixar de comprar o livro e ler o famoso Machadão na língua dantesca.

Pensieri e scritti letterari (pensamentos e escritos literários) de Leonardo da Vinci: Uma das tartarugas ninjas, Leonardo da Vinci foi um grande tudo: pintor, escultor, arquiteto, inventor e, o que eu não sabia, também escritor. Vi esse livro e não pensei duas vezes. Um dia comentarei sobre ele.

L'anno della valanga (O ano da avalanche) de Giovanni Orelli: Muita gente não sabe, mas a Suíça é um país pequeno mas com quatro línguas oficiais, alemão, francês, romanche e italiano. Esse livro comprei por pura curiosidade. Cheguei na banquinha da sociedade de editores suíça e perguntei qual era o escritor suíço de língua italiana mais famoso. E essa foi a resposta. Veremos o que vai dar.

Un uomo al Castello (Um homem no Castelo) de Václav Havel: Dos escritores tchecos, conhecia apenas dois: Franz Kafka e Milan Kundera. O autor desse livro, além de escritor e dramaturgo, foi uma importante figura na antiga Tchecoslováquia no combate ao regime comunista, rumo à Revolução de Veludo em 89, quando então foi eleito presidente do país. Quando Rep. Tcheca e Eslováquia se separaram, ainda foi eleito duas vezes presidente tcheco. O livro é uma entrevista-relato com o autor e interessante para pessoas malucas como eu, que gostam de países estranhos e estão pensando em aprender tcheco ou eslovaco.

Il palazzo a mille piani (O prédio de mil andares) de Jan Weiss: Nunca ouvi falar do maluco, que também é tcheco. Mas na banquinha da editora me explicaram que era surrealista, e os surrealistas são meio doidão (pelo menos na pintura) e confesso que o título me chamou a atenção. E normalmente, se não erro, acerto meus palpites.

Four Quartets (Quatro quartetos) de T.S. Eliot: O grande poeta nascido nos EUA e naturalizado inglese em uma edição bilíngue inglês-italiano, comentada e analisada por uma especialista. Não li, mas recomendo. Isso porque já li outras poesias do cara, e é muito bom.

Undici (Onze) de Bernardo Carvalho: É um escritor brasileiro, que confesso que nunca ouvi falar. Traduzido em italiano, comprei somente porque custava 2 euros e precisava de uma sacolinha pra colocar os outros livros.

Um dia, quem sabe, retorno a esses livros pra um comentário crítico (!).

domingo, 24 de outubro de 2010

Mochilão na Europa PARTE IV - No calor da Suécia

 Vou tentar, vou tentar. Não prometo nada, mas tentarei continuar o relato de apenas memórias, as memórias que me restaram, que são minha única lembrança das cidades pelas quais passei. Estou cansado. Trabalhei na Feira do Livro de Pisa, e também fiz minhas compras. Oito livros. Que não sei quando serão lidos. Ou se o serão.

A verdade é que nesses dois anos na Europa mudei muito o jeito de ver o mundo. A perspectiva é outra. E isso todo mundo fala, mas não deixa de ser verdade. A minha visão de literatura também mudou muito. E como sou um aprendiz de tradutor - ou algo do gênero - percebo o quanto a literatura é frágil. Mas essa ladainha eu deixo para outro dia.

Continuando o post anterior: acordei cansado. Muito cansado. Mas estava de férias, então pra quê descansar? Saí às 7h do barco-albergue-lanchonete, com um mapa na mão e - graças ao avanço da minha calvície - quase nada na cabeça. E claro, minha defunta máquina fotográfica.

Peguei o metrô na estação de Slussen e segui em direção nordeste até Karlaplan, onde desci e caminhei pela avenida Narvavägen até encontrar uma das inúmeras pontes da cidade, atravessá-la e, enfim, atingir meu destino: Djurgården, uma ilha-parque muito bonita, onde as pessoas correm, pedalam, navegam, além de muitos outros verbos. Segundo meu mapa, dali eu poderia alcançar facilmente a torre de tv Kaknästornet, o edifício mais alto da cidade com 155 m de altura e uma visão de tirar o fôlego. Mas não foi assim tão fácil. O que afinal tirou o meu fôlego foi o tal "passeio" no parque, que não terminava mais. Porém o panorama valeu a pena.

Nesse momento comecei a sentir um pouco de fome. Só de pensar em voltar caminhando, perdi o ânimo. Vi um ônibus que chegava e me fingi de turista (fingi tão bem que parecia ser um mesmo), perguntei se meu passe de metrô valia também pro ônibus. Qual não foi a surpresa quando soube que sim. "Carajo", disse em espanhol. Se soubesse antes teria poupado um pouco minhas pernas. Desci do ônibus em Strandvägen e caminhava tranquilamente pela orla sueca, admirando as belezas naturais do país, quando me deparo com um barco. Bonito, à vela, ancorado. Sem nenhuma indicação de nome ou se era um passeio de barco pra turistas. Acesso aberto, pessoas entrando, fui atrás, esperando que alguém me parasse pra dizer o preço ou, na pior das hipóteses, ser obrigado a descascar batatas no porão (como já fizeram os Paralamas do Sucesso, quando entraram de gaiato num navio).

Andando mais e mais, vi, para minha surpresa, que era um restaurante. "Mamma mia!", pensei no mais puro italiano. E sentei-me em frente ao rio, estiquei as desgastadas pernas enquanto esperava a carne de porco com geléia e a cerveja. Não sei exatamente o que era a comida, mas tinha uma coisa doce que parecia ser geléia, e a semelhança foi suficiente para que eu a definisse como tal. "Isso é que é vida", já pensou alguma vez o bicho-preguiça. Após o merecido desjejum, comprei outra cerveja, deitei-me na grama em frente ao rio, sob a sombra de um'árvore, e tive belos sonhos.

Acordei com olhares sobre mim. As pessoas ao meu redor pareciam curiosas. Ou insanas. Sabe lá. Primeiro fui ver se nenhum pombo tinha cagado em mim. Depois pensei, são apenas malucos na folga do fim de semana. Se é que os sanatórios permitem aos malucos um passeio dominical. Enfim, deixei pra lá, terminei minha cerveja e dirigi-me ao outro barco, o albergue flutuante, onde um repouso merecido aconteceria em breve tempo, antes da balada na terra dos vikings e das loiras. 

Falando nisso, durante a viagem - e até depois - dediquei várias horas à meditação sobre o porque do fetiche das moças suecas com a palavra Absolutely, relatada no post anterior. Porém a resposta fui encontrar somente hoje, enquanto escrevo esse post. Foi um estalo, que me fez, do nada, entender tudo, como nos desenhos de Escher, o holandês doidão. A resposta é mais óbvia do que parece: a bebida mais conhecida da Suécia é uma vodka? Absolute(ly)!

Continua no próximo post.




quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Tiririca, o filio do Braziu

Melhor do que esse, não existe...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Eleições 2010 - pior do que tá, fica?

Ainda me sinto assim no Brasil

Eu sei, eu sei. Estou devendo a continuação da minha viagem. Ela virá. A verdade é que estou muito ocupado ultimamente e com muitas coisas na cabeça, e quando aparece uma folguinha prefiro dormir ao invés de escrever. Mas isso passará.

Ontem, por exemplo, foi cansativo. Apesar de não ter exercido meu direito de cidadão - não fui até Roma votar porque não havia me cadastrado - fiquei satisfeito com o resultado parcial da eleição pra presidente. Mesmo se a Dilma ganhar, creio que o segundo turno seja mais saudável pra democracia brasileira. A crença de que estava tudo garantido pro PT poderia alimentar um monstro ainda escondido, mas que volta e meia entrevíamos seu rabo saindo das trevas. E não era o rabo da mulher melancia.

Enquanto eu navegava, me atualizava a respeito de tudo que aconteceu na campanha eleitoral. Mesmo um pouco atrasado, deu pra ter uma idéia geral. Inclusive das lambanças do Tribunal Eleitoral. E da horda de corruptos que insiste em voltar. Em uma conversa muito construtiva com meu primo Eduardo via MSN, destacávamos as aberrações eleitorais em todo o país, como os futebolistas Danrlei, Bebeto e Romário, o boxeador Popó, Garotinho, ACM Neto, Roseana Sarney, Zoinho (quem?), Wagner Montes, Ratinho Jr e o mais votado pra deputado estadual da Paraíba, Toinho do Sopão.

Nessas trocas úteis de informação, lembrei-me de quando ainda era bancário na cidade de Ibiporã, onde foi eleito para vereador o catador de papel Beiçola. Ele ia retirar o seu salário no meu caixa, e em seguida bebia tudo nos bares da cidade. Mas com certeza, bebia com muito mais classe, com todo o respeito que um excelentíssimo senhor político merece. Uma beleza.

Mas voltando, gostei do desempenho da Marina Silva, é uma nova alternativa o crescimento do PV. Mesmo sendo ela cria do PT. Na verdade, a minha filosofia é: "Si hay gobierno, soy contra. Si no hay gobierno, tambien soy". No Brasil é um perigo apoiar governos. E como os partidos são uma bagunça, quando voto escolho o candidato analisando pessoa por pessoa, e não de acordo com uma pretensa e inexistente ideologia política.

Enfim. O Tiririca, se tudo der certo, será impugnado. E também cancelados os ficha-suja. Esperemos. "A esperança é a única que morre", já disse algum sábio filósofo. E que minha sogra não se chame Esperança.

Mas o que mais gostei do dia de ontem não tem nada a ver com eleições. Enquanto falava com minha irmãzinha que estava fazendo aniversário, perguntei como ela estava se sentindo agora, no alto de seus nove anos. Eis a resposta:

- Eu to me sentindo mais independente!


É uma figura, a mocinha.

***

Espero voltar em breve com a continuação das aventuras na Europa. Se tudo der certo e nada der errado. Até.