sábado, 15 de outubro de 2011

Eins, zwei, polizei


Depois de, em 2009, ter ido à Oktoberfest em Munique, eis que chega a vez de conhecer a 2a. maior festa de alemao do mundo.

Em 3h estarei em Blumenau. Ein prosit!

sábado, 8 de outubro de 2011

Mochilão na Europa PARTE IX - Berlim



Eis-me aqui novamente, cada vez mais escrevendo menos. Mas isso faz parte da vida, essa coisa da qual todos fazemos parte, mas cada um tem a sua. Falando brevemente da minha, estou eternamente  em adaptação, mas quase chegando àquilo que é tido pelo senso comum de uma vida normal. Pelo menos é no que creio, neste instante.

Graças à minha relapsia, já se passaram 7 meses da última publicação do meu relato e mais de um ano da minha viagem. Como anunciei neste post, a viagem fez aniversário. Muitas lembranças se perderam no caminho, da mesma maneira que a minha câmera fotográfica. Eu até teria como reconstituir as datas exatas em que estive em Berlim, mas obstáculos me impedem de fazê-lo no momento. Como a preguiça. Tenho a leve impressão que era um fim de semana. Vamos todos acreditar nisso mesmo, e tocar o relato pra frente, pois o mesmo deve ser finalizado antes de seu aniversário de dois anos. E agora tenho uma motivação a mais, visto que encontrei a coleção de mapas das cidades visitadas, os únicos resquícios verdadeiros dessa viagem que a mim já  parece um sonho, ou um delírio, inacontecido. 

Mas, como eu ia dizendo no  último post:

Cheguei em Berlim perdido, mas me achei. A minha anfitriã, a jornalista alemoa, morava com uma francesa que não estava em casa no referido fim de semana. A casa não era uma casa, era um apartamento razoavelmente velho, bagunçado e cheio de moscas. O bairro de Neukölln é repleto de imigrantes das mais variadas nacionalidades, e é frequentado também por artistas alternativos, intelectuais ou pseudo tais entre outros malucos. Fazia parte da Berlim Ocidental, na época da Guerra Fria.

Aliás, a Guerra Fria representada pela divisão da cidade em duas, ainda pode ser muito bem observada tanto na arquitetura como na mentalidade do povo alemão. A parte soviética construía edifícios feios, grandes. Totalmente diferente da parte americana. E até hoje têm-se um preconceito. Foi o que percebi conversando com algumas pessoas, numa festa de aniversário em que entrei de penetra. Mas talvez eu tenha tido esta impressão porque falei somente com pessoas que vivem no lado americano.

Festa estranha com gente esquisita. Eu na verdade queria ir a um outro lugar qualquer, ver movimento, pessoas etc. Mas como hóspede, não tive muita escolha. Como a jornalista alemã era misantropa, fomos ao aniversário de uma moça razoavelmente antipática. Ambas haviam dividido uma casa um tempo atrás e, mesmo uma não indo muito com a cara da outra, a jornalista preferiu estar ali presente a ir pra uma verdadeira balada. Ach, diese Deutsch...

Mas conversando e tomando um mé - cacildis! - acabou que um casal puxou conversa. Ele um maluco professor universitário de não me lembro o quê. Ela, professora de crianças, se não me engano - e tenho grandes chances de me enganar. Nesta conversa foi que percebi o preconceito alemão em relação à parte soviética da cidade.

Contudo, ali mesmo na parte soviética,vê-se também a imponência e a grandiloquência do regime socialista russo. Em um dos passeios que fiz com minha anfitriã (com a bicicleta da companheira de casa pega escondida), fomos ao Treptower Park, um imenso local verde, memorial da II Guerra que homenageia 5 mil soldados russos mortos na batalha de Berlim em 1945. As estátuas ali presentes, umas com mais de 10m de altura se não me engano, impressionam a qualquer um. Eis algumas fotos (da internet, óbvio, visto a morte prematura da minha máquina fotográfica, que um dia será também homenageada com uma estátua de 10m de altura):


Até os dias de hoje, o lado soviético ainda é economicamente menos desenvolvido que o lado americano, apesar da queda do muro ter acontecido há 20 anos. É interessante também o famoso Checkpoint Charlie, um posto militar controlado pelos EUA que permitia a passagem de estrangeiros e autoridades do lado oriental para o ocidental e vice-versa. Hoje uma réplica foi reconstruída para satisfazer os turistas loucos por fotos. No romance Vastas emoções e pensamentos imperfeitos do grande Rubem Fonseca, o protagonista, metido em inúmeras intrigas, atravessa para o lado oriental como turista para contrabandear um suposto antigo manuscrito do escritor russo Isaac Bábel. Um bom livro, diga-se de passagem. Mas voltemos ao relato.

Esse contraste em Berlim acho que foi o que mais me impressionou, e foi então que decidi pesquisar algo sobre a história alemã, e descobri simplesmente que...ela não existe! O território que hoje é chamado de Alemanha já passou por várias, inúmeras mãos no passar dos séculos, e pode ser considerada Alemanha somente a partir de 1990, com a unificação da Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental em República Federal da Alemanha (Bundesrepublik Deutschland). O caos. Mas isso, aprendi, aconteceu com quase toda a Europa.

Chegando em Berlim, a primeira coisa que fiz foi descobrir um ponto de informações turísticas e pegar um mapinha, que normalmente é de graça. Mas ali não era, somente os folders de propaganda eram gratuitos. Porém vi um mapinha pequeno e, pensando que pelo tamanho fosse grátis, peguei-o e fui embora. Ao abrir, vi que tinha um preço bem na capa do mapinha, mas já era tarde demais. Dei o calote na alemoada.

Berlim é uma cidade gigantesca. Durante esta viagem meu joelho ainda estava em bom funcionamento e em todas as cidades eu fazia tudo a pé, para conhecer mesmo os lugares, me enturmar com a populaça e desbravar o desconhecido. Até tentei fazer o mesmo em Berlim, mas depois de caminhar por horas e continuar na mesma avenida, sem alcançar os lugares que eu queria e - o pior - sem nenhum ônibus passando por perto, tive que chegar à conclusão de que era uma cidade grande mesmo, muito embora coubesse dentro do meu mapa roubado, que cabia no meu bolso.

Berlim é, além de gigantesca, moderna. Diferentemente do resto da Europa que conserva construções medievais de séculos anteriores ao nosso, Berlim (e as grandes cidades da Alemanha) foram praticamente destruídas por completo na segunda guerra. Pela mesma razão, senti-me talvez pela primeira vez em um local vivo, parte de uma história recente que vivenciei, mesmo criança, pela televisão: a divisão da Alemanha em duas.

Apesar de ter ido a locais mais "famosos" como Roma e Barcelona, na Alemanha foi que me dei conta de que o mundo existe mesmo, e não é apenas uma ficção de um escritor louco, tendo nós como personagens. Ou talvez seja. Mas ali em Berlim eu percebi que, mesmo que eu seja um personagem de um escritor louco, pelo menos sou um personagem com a consciência de sê-lo em um local que, fictício ou não, fez parte da história recente do mundo, seja este mundo real ou irreal ou surreal ou abn amro real.

Creio, porém, ter-me alongado muito nessas digressões inúteis e deixado pouco tempo ao relato da viagem propriamente dita. Mas tudo bem, agora estou de volta, novamente com meus mapas e, no próximo relato, tentarei detalhar as possibilidades e impossibilidades berlinenses nestas linhas tortas, relatando minha ida ao Schloss Charlottenburg, Tiergarten, Brandenburger Tor, Friedrichstrasse, Alexanderplatz, o Muro de Berlim e mais outros locais tipicamente alemães. Nos vemos lá.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Regina


O desaparecimento de Regina foi um baque para todos nós. Nos reuníamos quase toda semana, cinco a sete pessoas, para bebermos e comemorarmos nossa amizade. Regina sempre fora a mais reservada do grupo, só se soltava depois de beber algumas doses, mas era divertidíssima. De poucas e certeiras palavras, era impossível não se impressionar com a acuidade de sua inteligência. Vez ou outra, devido a alguns remédios que alegava tomar para combater dores insuportáveis na coluna, Regina ia a nossos encontros e não bebia. Já nos acostumáramos a isso depois de anos. A última vez que a vimos ela não bebeu.

Foi um mês sem sua presença e começamos a nos preocupar. Karla era a única da turma que sabia onde Regina morava e propôs que fôssemos visitá-la no fim de semana seguinte. Todos aceitamos e brindamos a ela.

No sábado pela manhã fomos a seu prédio. Não havia porteiro e ninguém respondia ao interfone. Por sorte um morador saiu instantes depois e conseguimos entrar. Encontramos a porta entreaberta e, após tocarmos a campainha, entramos. A sala estava vazia, sem mobília, sem nada. A poeira que se acumulava no assoalho era espessa e parecia de meses. Não havia pegadas ou rastro de móveis arrastados. Simplesmente abandonado. Senti um frio na espinha e todos pressentimos que algo estranho estava para ocorrer.

Queríamos apenas ir embora. Contudo estávamos imóveis. Era certo que não havia mais ninguém além de nós, mas tive a intolerável certeza de que Regina ali estava. Era possível sentir uma presença etérea, difusa, como se preenchesse a sala inteiramente e se unisse ao ar de alguma forma, tornando-o espesso. Nossos movimentos cada vez mais lentos e desesperados pareciam presos, de tal forma que nos sentíamos em câmera lenta, tentando fugir de algo invisível contudo aterrorizante, como nas vãs tentativas de fugas em meus piores pesadelos. E como esse desespero não fosse suficiente para deixar-nos inertes, Regina materializou-se subitamente e o ar voltou ao seu estado físico natural. No entanto o terror que nos acometeu impôs-se sobre nossa vontade, que ordenava a fuga, e somente pudemos sentir o alívio de não estarmos mais presos ao ar espesso e pegajoso. Não havia como reagir, o medo em situações subitamente desconhecidas é como um paralisante. Mesmo o mais forte e emocionalmente controlado dos seres humanos, diante do oculto e do imprevisível, sente-se acuado, perde o controle de seus atos e pensamentos.

Regina parecia querer vingar-se de nós por algum motivo, mesmo sendo todos seus amigos e incapazes de fazer algo que pusesse em perigo a vida de qualquer um de nós, inclusive a dela. Sua face deformada transbordava ódio. Embora fosse possível ter certeza de sua identidade, ela parecia não reconhecer-nos. Pairando a meio metro do chão, assemelhava-se a um animal prestes a destroçar sua presa. Havia Regina e seu corpo, mas não havia alma, nem discernimento entre bem e mal.

Subitamente, como um tigre, Regina investe em nossa direção. A certeza da morte vem como o sopro de uma ventania, acompanhada de um terror lívido que nos obriga a comprimir com força nossos olhos, rezando ardentemente para que possamos acordar de mais este pesadelo.

Regina dissipa-se. Silêncio.
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Texto meu, de 2004 ou 2005, inscrito inutilmente em vários concursos