sábado, 8 de outubro de 2011

Mochilão na Europa PARTE IX - Berlim



Eis-me aqui novamente, cada vez mais escrevendo menos. Mas isso faz parte da vida, essa coisa da qual todos fazemos parte, mas cada um tem a sua. Falando brevemente da minha, estou eternamente  em adaptação, mas quase chegando àquilo que é tido pelo senso comum de uma vida normal. Pelo menos é no que creio, neste instante.

Graças à minha relapsia, já se passaram 7 meses da última publicação do meu relato e mais de um ano da minha viagem. Como anunciei neste post, a viagem fez aniversário. Muitas lembranças se perderam no caminho, da mesma maneira que a minha câmera fotográfica. Eu até teria como reconstituir as datas exatas em que estive em Berlim, mas obstáculos me impedem de fazê-lo no momento. Como a preguiça. Tenho a leve impressão que era um fim de semana. Vamos todos acreditar nisso mesmo, e tocar o relato pra frente, pois o mesmo deve ser finalizado antes de seu aniversário de dois anos. E agora tenho uma motivação a mais, visto que encontrei a coleção de mapas das cidades visitadas, os únicos resquícios verdadeiros dessa viagem que a mim já  parece um sonho, ou um delírio, inacontecido. 

Mas, como eu ia dizendo no  último post:

Cheguei em Berlim perdido, mas me achei. A minha anfitriã, a jornalista alemoa, morava com uma francesa que não estava em casa no referido fim de semana. A casa não era uma casa, era um apartamento razoavelmente velho, bagunçado e cheio de moscas. O bairro de Neukölln é repleto de imigrantes das mais variadas nacionalidades, e é frequentado também por artistas alternativos, intelectuais ou pseudo tais entre outros malucos. Fazia parte da Berlim Ocidental, na época da Guerra Fria.

Aliás, a Guerra Fria representada pela divisão da cidade em duas, ainda pode ser muito bem observada tanto na arquitetura como na mentalidade do povo alemão. A parte soviética construía edifícios feios, grandes. Totalmente diferente da parte americana. E até hoje têm-se um preconceito. Foi o que percebi conversando com algumas pessoas, numa festa de aniversário em que entrei de penetra. Mas talvez eu tenha tido esta impressão porque falei somente com pessoas que vivem no lado americano.

Festa estranha com gente esquisita. Eu na verdade queria ir a um outro lugar qualquer, ver movimento, pessoas etc. Mas como hóspede, não tive muita escolha. Como a jornalista alemã era misantropa, fomos ao aniversário de uma moça razoavelmente antipática. Ambas haviam dividido uma casa um tempo atrás e, mesmo uma não indo muito com a cara da outra, a jornalista preferiu estar ali presente a ir pra uma verdadeira balada. Ach, diese Deutsch...

Mas conversando e tomando um mé - cacildis! - acabou que um casal puxou conversa. Ele um maluco professor universitário de não me lembro o quê. Ela, professora de crianças, se não me engano - e tenho grandes chances de me enganar. Nesta conversa foi que percebi o preconceito alemão em relação à parte soviética da cidade.

Contudo, ali mesmo na parte soviética,vê-se também a imponência e a grandiloquência do regime socialista russo. Em um dos passeios que fiz com minha anfitriã (com a bicicleta da companheira de casa pega escondida), fomos ao Treptower Park, um imenso local verde, memorial da II Guerra que homenageia 5 mil soldados russos mortos na batalha de Berlim em 1945. As estátuas ali presentes, umas com mais de 10m de altura se não me engano, impressionam a qualquer um. Eis algumas fotos (da internet, óbvio, visto a morte prematura da minha máquina fotográfica, que um dia será também homenageada com uma estátua de 10m de altura):


Até os dias de hoje, o lado soviético ainda é economicamente menos desenvolvido que o lado americano, apesar da queda do muro ter acontecido há 20 anos. É interessante também o famoso Checkpoint Charlie, um posto militar controlado pelos EUA que permitia a passagem de estrangeiros e autoridades do lado oriental para o ocidental e vice-versa. Hoje uma réplica foi reconstruída para satisfazer os turistas loucos por fotos. No romance Vastas emoções e pensamentos imperfeitos do grande Rubem Fonseca, o protagonista, metido em inúmeras intrigas, atravessa para o lado oriental como turista para contrabandear um suposto antigo manuscrito do escritor russo Isaac Bábel. Um bom livro, diga-se de passagem. Mas voltemos ao relato.

Esse contraste em Berlim acho que foi o que mais me impressionou, e foi então que decidi pesquisar algo sobre a história alemã, e descobri simplesmente que...ela não existe! O território que hoje é chamado de Alemanha já passou por várias, inúmeras mãos no passar dos séculos, e pode ser considerada Alemanha somente a partir de 1990, com a unificação da Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental em República Federal da Alemanha (Bundesrepublik Deutschland). O caos. Mas isso, aprendi, aconteceu com quase toda a Europa.

Chegando em Berlim, a primeira coisa que fiz foi descobrir um ponto de informações turísticas e pegar um mapinha, que normalmente é de graça. Mas ali não era, somente os folders de propaganda eram gratuitos. Porém vi um mapinha pequeno e, pensando que pelo tamanho fosse grátis, peguei-o e fui embora. Ao abrir, vi que tinha um preço bem na capa do mapinha, mas já era tarde demais. Dei o calote na alemoada.

Berlim é uma cidade gigantesca. Durante esta viagem meu joelho ainda estava em bom funcionamento e em todas as cidades eu fazia tudo a pé, para conhecer mesmo os lugares, me enturmar com a populaça e desbravar o desconhecido. Até tentei fazer o mesmo em Berlim, mas depois de caminhar por horas e continuar na mesma avenida, sem alcançar os lugares que eu queria e - o pior - sem nenhum ônibus passando por perto, tive que chegar à conclusão de que era uma cidade grande mesmo, muito embora coubesse dentro do meu mapa roubado, que cabia no meu bolso.

Berlim é, além de gigantesca, moderna. Diferentemente do resto da Europa que conserva construções medievais de séculos anteriores ao nosso, Berlim (e as grandes cidades da Alemanha) foram praticamente destruídas por completo na segunda guerra. Pela mesma razão, senti-me talvez pela primeira vez em um local vivo, parte de uma história recente que vivenciei, mesmo criança, pela televisão: a divisão da Alemanha em duas.

Apesar de ter ido a locais mais "famosos" como Roma e Barcelona, na Alemanha foi que me dei conta de que o mundo existe mesmo, e não é apenas uma ficção de um escritor louco, tendo nós como personagens. Ou talvez seja. Mas ali em Berlim eu percebi que, mesmo que eu seja um personagem de um escritor louco, pelo menos sou um personagem com a consciência de sê-lo em um local que, fictício ou não, fez parte da história recente do mundo, seja este mundo real ou irreal ou surreal ou abn amro real.

Creio, porém, ter-me alongado muito nessas digressões inúteis e deixado pouco tempo ao relato da viagem propriamente dita. Mas tudo bem, agora estou de volta, novamente com meus mapas e, no próximo relato, tentarei detalhar as possibilidades e impossibilidades berlinenses nestas linhas tortas, relatando minha ida ao Schloss Charlottenburg, Tiergarten, Brandenburger Tor, Friedrichstrasse, Alexanderplatz, o Muro de Berlim e mais outros locais tipicamente alemães. Nos vemos lá.

3 comentários:

  1. Magavilha! fiquei feliz pelo retorno, aguardo ansiosa pelos demais relatos.
    "Até tentei fazer o mesmo em Berlim, mas depois de caminhar por horas e continuar na mesma avenida, sem alcançar os lugares que eu queria e - o pior - sem nenhum ônibus passando por perto, tive que chegar à conclusão de que era uma cidade grande mesmo, muito embora coubesse dentro do meu mapa roubado, que cabia no meu bolso." muito legal! bjs, aguardo as demais publicações.

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  2. pow, o cara vai pra Alemanha e rouba um mapa... hahaha... depois os brasileiros ficam com fama ruim e não sabem o porquê... haushaushuahsuhas

    Tchê, esse fato que tu lembrou, da reconstrução das cidades alemãs deve ser massa de ver...

    e lendo isso, lembrei de outro lugar que eu teria muito interesse em conhecer: Varsóvia (Polônia). Li o livro "O Pianista", onde é relatada a divisão da cidade, com a criação dos guetos onde os judeus eram forçados a habitar, e a destruição da cidade.

    Seria um lugar que eu gostaria de ver como tá hoje em dia...

    enfim... espero que a continuação não demore tanto dessa vez... já nem lembrava mais nada... hahaha

    Abraço ae, manolo!

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  3. porra alemão, eu ainda acho que o mundo é uma história de um escritor maluco... sei lá, não me convenci ainda... mas, qualquer dia desses, qdo passar pela alemanha, quem sabe eu me convença do contrario...
    porra alemão, aqui no brasil também dão mapa de gratis em tdo qto eh lugar. eu ganhei uns 3 d pelotas nas imobiliarias qdo tava procurando ap... porra! falow!

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