domingo, 21 de outubro de 2007

Do trato com a vida

Uno a embarcação
ao porto
e canto a convulsão
de um ser extinto.

Amo o sangue
que me crucia e doma,
com seu ferro.

Não espero
dos deuses,
pois engendro
o deus que me transfere
a solidão de ser
meu próprio invento.

Sou poeta,
formo o ciclo do tempo,
onde me enterro.

II

E vós quem sois? Vós que mostrais o orgulho
de monarcas sentados em seu trono e a ambição
de um jorro que se extingue. Quem sois?

Nada transpõe vossa usura,
nada transpõe a vaidade
das gazelas, com rosto de cavalo.

Vós que desprezais
do canto, a mina;
do tear da vida, a linha,
quem sois?

III

Se mostrardes
a erosão do dia
nas carroças,
concordarei com o sangue.

Se mostrardes
o término do jugo e sua máquina,
calada e represada,
concordarei com o sangue.

Não.
Não pactuo.
Não pactuo com o numerário das serpentes,
tentando violar a talha da nascente.

Não pactuo
com as garras
e o estômago encurvado
deste animal em desuso.

Não pactuo
com a turbulência fátua
da morte e o senhorio
que nos arrasta.

Entre areias sepultas,
estreitado na erva,
odiai-me fundamente.
Não pactuo.

Brotando das idades,
arbusto,
levedado no mundo,
odiai-me.

Sou vosso vômito profundo.

(C. Nejar)

Um comentário:

  1. o filho do Nejar é um baita enrolador. Mas o pai vale a pena ser lido

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