quinta-feira, 10 de junho de 2010

Carne, vinho e Dante


Quarta-feira passada foi feriado nacional aqui na Itália. O dia 2 de junho é o dia da Proclamação da República pra nós italianos, assim como 15 de novembro é a Proclamação da República para nós brasileiros.

Nesse mesmo dia (2 de junho) no ano de 1946, por meio de um referendo institucional, os italianos decidiram acabar com a monarquia - exilando o então rei Umberto II de Savóia - e criar a atual república parlamentarista.

E também nesse dia, no ano de 2010, comi o primeiro churrasco italiano, conhecido por essas paragens como Grigliata. Um dia quente. Quente o suficiente pra muita carne bovina e cerveja. Mas a grigliata, infelizmente, consiste em carne de porco.

E vinho.

Mas tudo bem, tenho que me acostumar a isso, afinal, também sou um deles.

Depois de dormir 2 horas e me recuperar mais ou menos do vinho, fui trabalhar. Como já disse outras vezes, de madrugada chega uma hora em que devo fazer a ronda no hotel, que consiste em descer a pé do quarto andar, apagando luzes e verificando a normalidade de tudo, para o bem-estar dos hóspedes. E lá fui eu.

Entrei no elevador, apertei o numero quatro e subi. Eu cantava uma música do White Stripes. E o elevador subia. Acabei a música, iniciei outra e ainda assim não havia chegado lá. Comecei a me preocupar, eu sempre quis subir na vida, mas não indefinidamente. Pelos meus cálculos eu deveria estar chegando ao vigésimo andar. Isso se ele existisse.

Simplesmente eu estava em contínuo movimento vertical indefinido. Não sabendo o que fazer, me sentei. O rumor começou a tornar-se monótono. Foi quando me veio a idéia de ligar pra alguém pedindo ajuda. Mas havia esquecido o celular na recepção. Cazzo.

Pelos meus cálculos, eu devia estar ali há mais ou menos quinze minutos. Foi então que lembrei do botão de emergência. Levantei-me e quando fui apertá-lo, o elevador parou e a porta se abriu. Saí um pouco ressabiado. Olhei para os lados. Quarto andar.

Estranho. A cada passo eu esperava que algo acontecesse. Tudo normal. Fui descendo, e nada. Chegando ao primeiro andar, apaguei as últimas luzes e troquei duas palavras com meu amigo busto de Dante sobre o ocorrido. Disse-me em latim "Nullum secretum est ubi regnat ebrietas". Tive de concordar, embora não tenha entendido muito bem o que ele quis dizer.

Me despedi do sumo poeta. Enquanto descia as escadas, porém, ouvi um barulho, como uma pedra que se espatifa.

Voltei rapidamente e vejo o busto de Dante em cacos. Cada parte da sua cabeça foi para um lado. Neste momento, enquanto começava a formular explicações pra dar aos meus superiores no dia seguinte, percebi que um pedaço da estátua ainda se movia. Aproximei-me.

Era a boca de Dante. Rolava de tanto rir.

* * *

Boa Copa do Mundo!

2 comentários:

  1. Porra alemão. Vai ver você, o Dante e o Umberto II tomaram todas ai no hotel e você não lembra de nada pow!
    porra alemão italiano brasileiro! abraço!
    Ah, e voces vão perder pro paraguai na estreia..eeuhehu

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