Uma das dificuldades maiores de alguém que muda de país, que deixa deveras frustrado qualquer ser humano nessa situação são as piadas, os trocadilhos e as tiradas.
Digo isso porque várias vezes tentei traduzir sem sucesso pro italiano as piadas recorrentes que faço em português. Algumas poucas vezes até é compreensível em italiano a minha tradução, mas daí esbarro sem dúvida em outra barreira: a do senso de humor.
Uma piada não entendida, ou até mesmo explicada, é broxante. Dá uma sensação de impotência diante do mundo, algo terrível. Hoje me deparei duas vezes em uma bifurcação dessas: fazer o não fazer a piada.
Estávamos em uma aula do mestrado. Estamos estudando poesias de um cara chamado Derek Walcott, já vencedor do prêmio Nobel, nascido em algum país caribenho. A discorrer sobre o assunto, o tradutor italiano desse mesmo poeta.
Enfim, em uma passagem o cara escreveu a palavra "moonlit" que significa iluminado pela lua. O problema é que traduzir uma palavra por três é realmente impossível. Estávamos então todos quebrando a cabeça, se em vez disso, cortar a lua e deixar só iluminado, ou então "sotto la luna" (sob a lua) que pelo menos fica menor. Foi aí então que me veio a idéia de criar um neologismo e dizer ilunaminato, que juntaria "luna" e "illuminato" em uma mesma palavra. Óbvio que seria uma tirada feita pra suscitar risos, descontrair a aula e ganhar alguns olhares de admiração das colegas. Até porque, apesar de substituir bem e dar o mesmo sentido do original, se o autor não usou um neologismo, quem sou eu, mero tradutor, a ter o direito de fazê-lo?
Mas como já vivi outras situações parecidas, em que minha tiradas geniais foram relegadas à escuridão do fosso das piadas ignoradas, calei-me. Embora ainda ache que seja genial.
Mais adiante, no mesmo trecho o autor fala de "dusk", cuja tradução pro italiano seria "crepuscolo", "tramonto", o nosso tão conhecido entardecer ou pôr-do-sol. De novo palavras gigantescas pra traduzir uma de quatro letras, o que quebra qualquer ritmo porventura existente. E daí começaram as piadas que eles mesmo faziam, tipo traduzir como antes da janta, essas coisas, e eu estava quase pra soltar uma, mas parei com ela na garganta.
Nunca calar foi um ato de tamanha sabedoria. Sairia dali tachado de louco se houvesse aberto a boca. Porque no Brasil, um país em que as pessoas fazem seu horário de acordo com a programação da Globo, dizer "depois da novela" todo mundo entende, e cai na risada. Mas aqui...aqui até passa novela brasileira, de tarde se nao me engano, aqui os programas até têm seus horários fixos e se repetem todo o dia, mas não se ouve falar "ah depois do jornal, depois da novel, depois do jogo". Aqui ainda não estão subjugados pela autoridade televisiva (embora estejam por Berlusconi, mas isso é assunto pra outro dia). Aqui cada um faz seu tempo.
Talvez por causa da violência no Brasil, ficamos mais tempo em casa e, por conseguinte, mais TV na cabeça. Aqui as pessoas caminham sem olhar pra trás pra ver se tem alguém seguindo. No Brasil a vioência nos faz ver novelas. E por culpa disso, perdi minha piada, uma vez mais...
Preciso de uma psicóloga, pra ver se recupero meu senso de humor. Sem meus trocadilhos, não sou mais o mesmo.
sábado, 27 de março de 2010
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Porra alemão, como vou ler teu texto se não para de me chamar no msn, carai!!?? euheueh, mas eu tb preciso de uma psicóloga pra recuperar o ânimo, e d preferência q tenha belas pernas. abraço alemao!
ResponderExcluirporra, ficou o nome do pai ai! q merda... ta loko, ta dificil...
ResponderExcluirtalvez o mundo fique melhor sem os seus trocadilhos e voce consequentemente emlhore
ResponderExcluirrss
aoo fiao
Eu sem meus trocadilhos nao sou eu.
ResponderExcluirSerá que o seu senso de humor abandonou por você estar em outro país? Deixando de lado a brincadeirinha, achei interessante os trabalhos de tradução em sala de aula que você relatou aqui.
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