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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Mochilão na Europa parte X - Alles gut, mein frau!

Tiergarten

Meus fantasmas já não são mais meus: assombrarão outras pessoas agora. Desistir é uma fraqueza, característica comumente inexistente nos fantasmas, mas a espera angustiante e indefinida da continuação deste maluco e despedaçado relato transforma até a mais feroz das assombrações em pusilânime vítima do tédio. E o tédio, até os Deuses o sabem, é cruel e não perdoa.


Deixando, contudo, os Deuses de lado, que já se ocupam bastante de outros assuntos verdadeiramente importantes, voltemos ao relato, inacabado (como se uma novidade fosse), cujo último capítulo, publicado em outubro do ano passado, ninguém mais lembra. Da minha viagem, minha memória, que era de vidro, se quebrou. Só sei os lugares que visitei em Berlim porque relatei-os no último post. Mas talvez mesmo naquele texto eu os tenha inventado, portanto o que se lerá a seguir trata-se somente, e nada mais, que ficção. 


A ordem dos dias e dos acontecimentos não refletem a realidade. Passou-se mais de um ano e espero terminar em breve este relato maldito, pois minha consciência pesa a cada vez que tento lembrar-me do que, na memória, já não encontro mais. Por isso crio tudo, com os mapas em minha frente, a única coisa palpável desta viagem que a Gulliver causa invejas.


Mas, como eu ia dizendo no último post:

Schloss Charlottenburg, Tiergarten, Brandenburger Tor, Friedrichstrasse, Alexanderplatz, o Muro de Berlim. Todos esses lugares existem, eu sei. O meu mapa diz isso. E, como eu mesmo afirmei que os visitei no último post, se eu não acreditar em mim mesmo, em quem poderia?

Sei que fui em todos, mas não me lembro a ordem. Finjamos, então, que eu tenha ido nesta ordem mesmo. Vejamos: enquanto minha anfitriã ia ao seu trabalho, peguei o metrô e dirigi-me ao metrô, peguei a linha U2 que leva até ao Schloss Charlottenburg. Burro fui, porque se seguisse mais um pouco na mesma linha, desceria no grande Olympia Stadion, o famosíssimo Estádio Olímpico de Berlim, onde poderia ter tirado belas e inúmeras fotos, que de nada adiantariam graças à prematura morte de minha máquina fotográfica antes do fim da viagem.

Desci na estação Richard Wagner Platz, se não me engano (a partir de agora abster-me-ei de usar o termo "se não me engano", visto a grande possibilidade de enganar-me. Pressupõe-se, doravante, que estou sempre enganado). Dali, caminhei alguns metros pela Otto-Suhr Allee, admirando a arquitetura alemoa e as alemãs arquitetônicas, até chegar na Spandauer Damm, que me levou diretamente ao Schloss (Castelo) Charlottenburg.
Schloss Charlottenburg

Dei uma volta ao redor, mas decidi não entrar. De qualquer forma, era um belo castelo, embora eu tenha visitado alguns mais bonitos em Viena, em uma viagem de 4 dias que fiz para visitar Bratislava, a capital da Eslováquia, e Viena, capoluogo da Áustria (viagem esta que talvez, um dia, eu conte. Por sorte, tenho fotos, que servem de muletas à minha memória).

Decidi então, por um golpe de azar, ir até a estação do metrô Zoologischer Garten e ir a pé até a famosa Brandenburger Tor, passando pelo meio do Tiergarten, um gigantesco parque no coração de uma das maiores cidades europeias. Posso ter perdido minha máquina e minha memória, mas minhas pernas dóem ao lembrar desta decisão. Custou-me, certamente, alguns músculos de meu joelho. Fui-me, porém, inconsciente dos perigos que me esperavam pelo caminho. Primeiramente, até chegar à Strasse des 17 Juni, a avenida que corta o Tiergarten de leste a oeste, devo ter demorado quase meia hora. Em seguida, até atingir o Siegessaeule Victory Column, mais meia hora. Ali comecei a ver onde tinha me metido. Muito embora em meu mapa tudo coubesse em dois dedos, vi que a fatiga seria enorme. A Victory Column ficava, em meu mapa, a um terço do caminho até o Brandenburger Tor. E, se até ali eu levara uma hora quase, imagine até o final. Decidi, pois, pegar o primeiro ônibus que passasse. Caminhei com calma, olhando volta e meia para trás, esperando o momento de acenar ao motorista para parar. Porém, para tristeza minha, nenhum ônibus passava.

No desespero que a sobrevivência impõe aos desvalidos, aceitei mentalmente até mesmo a hipótese de pegar um táxi, alternativa extremamente cara e fora do planejado nesta viagem, mas que meu corpo exigia, visto o desgaste não programado e, considerando ainda, que eu estava pouco além da metade de minha viagem e energias eram necessárias para chegar ao final e poder relatar tudo, como ora estou relatando aos fantasmas de meus fantasmas. Entretanto, táxis eram como discos voadores, existiam somente na minha imaginação. Em todo este tempo, não passou nenhum em um ponto turístico dos mais visitados na Alemanha. (Em minha próxima vida vou ter um táxi nesta avenida. Ficarei rico com os turistas desavisados que por ali passarem).
Pequeno trecho da Strasse des 17 Juni por mim percorrido a pé. (Beeem) ao fundo, Brandenburger Tor.

Mas, como diria o grande e já falecido José Saramago, o que não tem remédio, remediado está. Fui-me a pé até o dito Brandenburger Tor. Ali sim, em meio a uma multidão de turistas malditos, fatigado, com as pernas doloridas, avistei ônibus para turistas, aqueles clássicos de dois andares, e com ele visitei os pontos famosos de Berlim, dentre eles, todos aqueles listados no início deste relato.

Já no início da viagem, por uma das ruas que cortavam o fatídico Tiergarten, o guia turístico relatava, tranquilamente os pontos turísticos pelos quais passávamos, citando nomes, história e etc desses locais, até que disse, como se estivesse lendo um texto, em um tom tranquilo, não olhem para a esquerda. Obviamente, todos os turistas olharam, e viram um bando de alemão pelado. Tratava-se de um setor do parque para os praticantes de nudismo, no centro da cidade. Os americanos ali no busão presentes sussurravam "oh my god!", os eventuais sul-americanos riam, e os europeus nem bola. Os japoneses tiravam fotos, obviamente.

Alemoada pelada, nem aí pra paçoca

A alemoada gosta de ficar pelada. Vi isso também em Colônia, quando andei num teleférico que, coincidência ou não, passava por cima dum parque de nudismo. Aliás, quem gosta de cerveja e de ficar pelado tem que ir pra Alemanha. Mein gott!

Sinceramente, não lembro muito mais além disso de Berlim. Fui no Muro, ou nos restos dele chamado de East Side Gallery, e não passa de partes que permanecem em pé, devidamente pintados e grafitados por artistas de todas as partes do mundo. Fui ao checkpoint-charlie, fui à Alexanderplatz, mas não lembro de nada. Recordo-me, porém, que em meu último dia na Alemanha minha anfitriã roubou a bike da sua colega de casa e fizemos um tour pela cidade, coisa que relatei no post anterior, o que demonstra a falta de lógica e de ordenação dos acontecimentos. Saindo de sua casa ainda vaguei por algumas horas em Berlim, decidindo se ficava um dia a mais na cidade para curtir uma verdadeira balada ou se me mandava pra Praga, capital da República Tcheca. A chuva interminável que desabou sobre a capital teutônica decidiu por mim. Seis (ou foram quatro?) horas depois, chegava eu em Praga: depois de passar pela Bélgica, a terra das loiras (as melhores e mais variadas), pela Suécia, a terra das loiras (as mais encorpadas), pela Dinamarca, a terra das loiras (as mais simpáticas), pela Alemanha, a terra das loiras (as tradicionais), acabara de chegar na República Tcheca, a terra das loiras (as mais bonitas e mais baratas, não necessariamente nesta ordem). Mas tudo isto será devidamente explicado nos próximos relatos, da mais bela cidade europeia que visitei, a mais surpreendente, a mais exuberante e, por incrível que pareça, a mais barata também, onde pude saborear quitutes nunca antes vistos, adentrar castelos gigantescos, embebedar-me em bares subterrâneos, provar cervejas mais baratas que água e ainda assim saborosas e, acima de tudo, conhecer a cidade onde Kafka nasceu e viveu e onde Einstein, na mesma época, lecionava e frequentava os mesmo saraus literários do escritor tcheco, nos longínquos primórdios do século XX.

Praga

Continua no próximo post.




sábado, 8 de outubro de 2011

Mochilão na Europa PARTE IX - Berlim



Eis-me aqui novamente, cada vez mais escrevendo menos. Mas isso faz parte da vida, essa coisa da qual todos fazemos parte, mas cada um tem a sua. Falando brevemente da minha, estou eternamente  em adaptação, mas quase chegando àquilo que é tido pelo senso comum de uma vida normal. Pelo menos é no que creio, neste instante.

Graças à minha relapsia, já se passaram 7 meses da última publicação do meu relato e mais de um ano da minha viagem. Como anunciei neste post, a viagem fez aniversário. Muitas lembranças se perderam no caminho, da mesma maneira que a minha câmera fotográfica. Eu até teria como reconstituir as datas exatas em que estive em Berlim, mas obstáculos me impedem de fazê-lo no momento. Como a preguiça. Tenho a leve impressão que era um fim de semana. Vamos todos acreditar nisso mesmo, e tocar o relato pra frente, pois o mesmo deve ser finalizado antes de seu aniversário de dois anos. E agora tenho uma motivação a mais, visto que encontrei a coleção de mapas das cidades visitadas, os únicos resquícios verdadeiros dessa viagem que a mim já  parece um sonho, ou um delírio, inacontecido. 

Mas, como eu ia dizendo no  último post:

Cheguei em Berlim perdido, mas me achei. A minha anfitriã, a jornalista alemoa, morava com uma francesa que não estava em casa no referido fim de semana. A casa não era uma casa, era um apartamento razoavelmente velho, bagunçado e cheio de moscas. O bairro de Neukölln é repleto de imigrantes das mais variadas nacionalidades, e é frequentado também por artistas alternativos, intelectuais ou pseudo tais entre outros malucos. Fazia parte da Berlim Ocidental, na época da Guerra Fria.

Aliás, a Guerra Fria representada pela divisão da cidade em duas, ainda pode ser muito bem observada tanto na arquitetura como na mentalidade do povo alemão. A parte soviética construía edifícios feios, grandes. Totalmente diferente da parte americana. E até hoje têm-se um preconceito. Foi o que percebi conversando com algumas pessoas, numa festa de aniversário em que entrei de penetra. Mas talvez eu tenha tido esta impressão porque falei somente com pessoas que vivem no lado americano.

Festa estranha com gente esquisita. Eu na verdade queria ir a um outro lugar qualquer, ver movimento, pessoas etc. Mas como hóspede, não tive muita escolha. Como a jornalista alemã era misantropa, fomos ao aniversário de uma moça razoavelmente antipática. Ambas haviam dividido uma casa um tempo atrás e, mesmo uma não indo muito com a cara da outra, a jornalista preferiu estar ali presente a ir pra uma verdadeira balada. Ach, diese Deutsch...

Mas conversando e tomando um mé - cacildis! - acabou que um casal puxou conversa. Ele um maluco professor universitário de não me lembro o quê. Ela, professora de crianças, se não me engano - e tenho grandes chances de me enganar. Nesta conversa foi que percebi o preconceito alemão em relação à parte soviética da cidade.

Contudo, ali mesmo na parte soviética,vê-se também a imponência e a grandiloquência do regime socialista russo. Em um dos passeios que fiz com minha anfitriã (com a bicicleta da companheira de casa pega escondida), fomos ao Treptower Park, um imenso local verde, memorial da II Guerra que homenageia 5 mil soldados russos mortos na batalha de Berlim em 1945. As estátuas ali presentes, umas com mais de 10m de altura se não me engano, impressionam a qualquer um. Eis algumas fotos (da internet, óbvio, visto a morte prematura da minha máquina fotográfica, que um dia será também homenageada com uma estátua de 10m de altura):


Até os dias de hoje, o lado soviético ainda é economicamente menos desenvolvido que o lado americano, apesar da queda do muro ter acontecido há 20 anos. É interessante também o famoso Checkpoint Charlie, um posto militar controlado pelos EUA que permitia a passagem de estrangeiros e autoridades do lado oriental para o ocidental e vice-versa. Hoje uma réplica foi reconstruída para satisfazer os turistas loucos por fotos. No romance Vastas emoções e pensamentos imperfeitos do grande Rubem Fonseca, o protagonista, metido em inúmeras intrigas, atravessa para o lado oriental como turista para contrabandear um suposto antigo manuscrito do escritor russo Isaac Bábel. Um bom livro, diga-se de passagem. Mas voltemos ao relato.

Esse contraste em Berlim acho que foi o que mais me impressionou, e foi então que decidi pesquisar algo sobre a história alemã, e descobri simplesmente que...ela não existe! O território que hoje é chamado de Alemanha já passou por várias, inúmeras mãos no passar dos séculos, e pode ser considerada Alemanha somente a partir de 1990, com a unificação da Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental em República Federal da Alemanha (Bundesrepublik Deutschland). O caos. Mas isso, aprendi, aconteceu com quase toda a Europa.

Chegando em Berlim, a primeira coisa que fiz foi descobrir um ponto de informações turísticas e pegar um mapinha, que normalmente é de graça. Mas ali não era, somente os folders de propaganda eram gratuitos. Porém vi um mapinha pequeno e, pensando que pelo tamanho fosse grátis, peguei-o e fui embora. Ao abrir, vi que tinha um preço bem na capa do mapinha, mas já era tarde demais. Dei o calote na alemoada.

Berlim é uma cidade gigantesca. Durante esta viagem meu joelho ainda estava em bom funcionamento e em todas as cidades eu fazia tudo a pé, para conhecer mesmo os lugares, me enturmar com a populaça e desbravar o desconhecido. Até tentei fazer o mesmo em Berlim, mas depois de caminhar por horas e continuar na mesma avenida, sem alcançar os lugares que eu queria e - o pior - sem nenhum ônibus passando por perto, tive que chegar à conclusão de que era uma cidade grande mesmo, muito embora coubesse dentro do meu mapa roubado, que cabia no meu bolso.

Berlim é, além de gigantesca, moderna. Diferentemente do resto da Europa que conserva construções medievais de séculos anteriores ao nosso, Berlim (e as grandes cidades da Alemanha) foram praticamente destruídas por completo na segunda guerra. Pela mesma razão, senti-me talvez pela primeira vez em um local vivo, parte de uma história recente que vivenciei, mesmo criança, pela televisão: a divisão da Alemanha em duas.

Apesar de ter ido a locais mais "famosos" como Roma e Barcelona, na Alemanha foi que me dei conta de que o mundo existe mesmo, e não é apenas uma ficção de um escritor louco, tendo nós como personagens. Ou talvez seja. Mas ali em Berlim eu percebi que, mesmo que eu seja um personagem de um escritor louco, pelo menos sou um personagem com a consciência de sê-lo em um local que, fictício ou não, fez parte da história recente do mundo, seja este mundo real ou irreal ou surreal ou abn amro real.

Creio, porém, ter-me alongado muito nessas digressões inúteis e deixado pouco tempo ao relato da viagem propriamente dita. Mas tudo bem, agora estou de volta, novamente com meus mapas e, no próximo relato, tentarei detalhar as possibilidades e impossibilidades berlinenses nestas linhas tortas, relatando minha ida ao Schloss Charlottenburg, Tiergarten, Brandenburger Tor, Friedrichstrasse, Alexanderplatz, o Muro de Berlim e mais outros locais tipicamente alemães. Nos vemos lá.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Memórias de minhas putas tristes


É agosto e faz frio. Chove. Diferentemente de um ano atrás, quando, no mesmo mês de agosto, no auge do calor, comecei um mochilão pela Europa. Era verão e o sol esquentou os dias que vieram. E o título deste post é o mesmo do livro do García Márquez.

A viagem fez um ano e, diferentemente do que previ neste post, não consegui terminar meu relato antes deste aniversário. Faltam ainda minhas desventuras em Berlim, Praga e Berna, mais ou menos metade da viagem a ser relatada.

Desculpas tenho de sobra, muitas mudanças repentinas e novidades aconteceram, coisas que exigiram total atenção da minha parte. Espero, sinceramente, terminar tudo isto antes do final de 2011, antes que minhas memórias já devidamente deterioradas possam se deteriorar ainda mais.

Preciso somente reencontrar os mapas das cidades e minhas anotações esparsas nas diversas caixas que me rodeiam, como cachorros a me olhar, suplicando por comida. Reencontrá-las, estas anotações, e combiná-las com um copo de qualquer coisa e um saxofone nas caixas de som, é o que preciso.

Somente isso. Tudo isso.

domingo, 13 de março de 2011

Mochilão na Europa PARTE VIII - Interlúdio

De Copenhague a Berlim em 2 dias (passando por Colônia e Maastricht)

Segundo o Houaiss, o substantivo masculino interlúdio possui vários significados, entre eles:  mús composição instrumental com a função de separar partes musicais, litúrgicas ou cênicas; intervalo entre duas cenas; entreato ('representação entre dois atos'); lapso de tempo que interrompe provisoriamente alguma coisa. Pensando nisso - não somente nisso, pois eu ainda pensava muito na balada de ontem e, além disso, em como elaborar um texto sobre a Eternidade, confrontando minha teoria com as de Borges, Nietzsche e Santo Agostinho - enfim, digamos que eu estivesse pensando somente nisso, no interlúdio, resolvi resumir dois dias da viagem em um só post, como se separasse a minha viagem em Antes de Maastricht e Depois de Maastricht (doravante AM e DM). Pois nessa viagem, Maastricht foi o divisor de águas. Antes, a primeira etapa, o deslumbre, a inquietação, o êxtase do novo. Depois, a segunda etapa, o deslumbre, a inquietação, o êxtase do novo. De novo. Mas porque criar este hipotético marco divisório em Maastricht e não em Colônia? Isso, meus caros fantasmas, deixo para vocês especularem uma resposta.

Mas, como eu ia dizendo no último post:

Bairro de Christianshavn


Saí do museu Carlsberg e fui diretamente dormir. Acordei pelas 19h e, bem acompanhado por uma cicerone loira dinamarquesa, fui para o famoso reduto hippie alternativo de Copenhague, o famigerado Christiania. Nunca ouviu falar? Mesmo? Nem eu, pelo menos até aquele dia. Localizado dentro do bairro de Christianshavn, é um local que foi invadido umas décadas atrás e agora se auto-proclama uma comunidade alternativa independente. Quando entrei lá, Raul Seixas me disse: "viva a sociedade alternativa". Apesar de ser uma atração turística, as fotografias são proibidas, então mesmo eu perdendo minha máquina fotográfica, essas fotos eu não perdi, pelo simples fato de que não as fiz.

A loira hippie
Após tomar umas loiras geladas fabricadas ali mesmo pelas loiras hippies, dei mais uma volta com minha loira e fui pra casa. No dia seguinte, sob uma garoa chata e insistente, visitei alguns belos locais, subi em uma torre circular e tive uma bela visão da cidade inteira que registrei em fotos, mas que de nada adiantou. Depois disso, dirigi-me para a minha grande amiga estação ferroviária, onde enrolei bastante até decidir onde ir. Poderia ficar ali mais um dia, mas com essa chuva interminável não representava uma boa opção. Analisando as opções de trens noturnos, preços, próximas paradas (Berlim e Praga, as únicas certezas que eu tinha), além de outros fatores que foram decisivos, fiquei dividido entre ir para Hamburgo ou Köln (Colônia em português). Como tinha amigos na segunda cidade, uni o útil ao agradável, e lá me fui. Já havia estado ali pouco antes de visitar a Oktoberfest de Munique em 2009 e, após este mochilão, retornei uma vez mais. É uma bela e agradável cidade. Peguei o trem noturno e me mandei.

Foto da primeira vez que estive em Colônia, AM, com o rio Reno ao fundo

Cheguei de manhã cedo e dei uma volta pela cidade com minha anfitriã, Aninha Schönefrau. Dormimos cedo e, na manhã seguinte, como eu já conhecia bem a cidade, decidimos ir até Maastricht, na Holanda, que ficava a 2h de Colônia. A única coisa que eu sabia sobre o local era que ali tinha sido assinado o Tratado de Maastricht, que eu nem me lembrava o que era. Só hoje, escrevendo minhas memórias sobre esta viagem louca, consultei a wikipédia que me disse que tal tratado foi o criador da União Européia. Muito bem, sussurrei, e continuei a escrever.

Maastricht


Bonita, pequena e cara cidade. Vê-se visivelmente que se trata de um local que explora o turismo de alta renda, pois até um sanduichinho meia-boca custa quase 10 euros. Mas as igrejas, torres, os muros e o rio Maas compensam, o visual é decididamente interessante e, podendo ser feito em uma tarde, vale a pena. Subi novamente em outra torre, de onde pude admirar uma bela visão da cidade inteira que registrei em fotos, mas que de nada adiantou. O legal é que quando estávamos lá em cima, começaram a tocar os sinos das várias torres das cidades, o que imagino seja uma das grandes atrações turísticas da cidade.



Em seguida fui a uma loja de antiguidades que parecia interessante, com muito mapas antigos expostos. Como grande ex-futuro-geógrafo, gosto dessa coisas de mapas, e ali perguntei o preço. Algo em torno de 5 mil euros. Uma mixaria, que resolvi deixar para outro dia, pois ia gastar essa quantia com o combustível no meu helicóptero.

Maastricht em 1652


Depois de caminhar bastante pela cidade, voltamos para Colônia, pois dali eu não só pegaria o trem para Berlim, como realmente o peguei. No trem - muito confortável se comparado com os trens italianos, mas bem sem-vergonha se a comparação for com os trens suecos ou dinamarqueses (ah, as suecas e as dinamarquesas...) - puxei papo com um cara que só reclamava da Alemanha, e dizia como era uma merda os trens. Chorava o cidadão e, ainda por cima, queria me converter para a religião dele, que eu nunca tinha ouvido falar e cujo nome não me lembro agora. Só sei que eles não podiam beber álcool, e isso foi determinante. Aliás, me perguntei como na Alemanha, considerada por muitos a terra da cerveja (do inglês antigo Ale=cerveja e do Grego pré-socrático manha=terra); como ali, no país que criou a Oktoberfest, que se orgulha de usar bermuda com suspensórios e um chapéu com uma pena do lado pra beber cerveja - como, mein Gott! - como permitiram, neste país, que existisse uma religião que proíbe a cerveja? Até que, enfim, o trem foi esvaziando e, com a desculpa de dormir um pouco, sentei em outra poltrona e escapei das lamentações do Fritz.

Acordei pouco antes de Berlim, pouco antes da meia-noite. Cansado. Com fome. Com um endereço na mão. Endereço este que eu não fazia a menor idéia de como chegar. Sabia - e somente isso sabia - que era o local onde me hospedariam na capital alemã. Chegar lá foi difícil. Muito difícil.

DM


Mas cheguei. Conversei um pouco com minha anfitriã, desta vez uma jornalista alemã que trabalhava no jornal Der Tagesspiegel. Ela me hospedaria em sua casa por três noites. E não só o faria, como realmente o fez. O bairro de Neukölln é relativamente perto do centro. Mas relativamente perto, para Berlim, é longe bagarai.

Como vocês verão no próximo post...