Vou tentar, vou tentar. Não prometo nada, mas tentarei continuar o relato de apenas memórias, as memórias que me restaram, que são minha única lembrança das cidades pelas quais passei. Estou cansado. Trabalhei na Feira do Livro de Pisa, e também fiz minhas compras. Oito livros. Que não sei quando serão lidos. Ou se o serão.
A verdade é que nesses dois anos na Europa mudei muito o jeito de ver o mundo. A perspectiva é outra. E isso todo mundo fala, mas não deixa de ser verdade. A minha visão de literatura também mudou muito. E como sou um aprendiz de tradutor - ou algo do gênero - percebo o quanto a literatura é frágil. Mas essa ladainha eu deixo para outro dia.
Continuando o post anterior: acordei cansado. Muito cansado. Mas estava de férias, então pra quê descansar? Saí às 7h do barco-albergue-lanchonete, com um mapa na mão e - graças ao avanço da minha calvície - quase nada na cabeça. E claro, minha defunta máquina fotográfica.
Peguei o metrô na estação de Slussen e segui em direção nordeste até Karlaplan, onde desci e caminhei pela avenida Narvavägen até encontrar uma das inúmeras pontes da cidade, atravessá-la e, enfim, atingir meu destino: Djurgården, uma ilha-parque muito bonita, onde as pessoas correm, pedalam, navegam, além de muitos outros verbos. Segundo meu mapa, dali eu poderia alcançar facilmente a torre de tv Kaknästornet, o edifício mais alto da cidade com 155 m de altura e uma visão de tirar o fôlego. Mas não foi assim tão fácil. O que afinal tirou o meu fôlego foi o tal "passeio" no parque, que não terminava mais. Porém o panorama valeu a pena.
Nesse momento comecei a sentir um pouco de fome. Só de pensar em voltar caminhando, perdi o ânimo. Vi um ônibus que chegava e me fingi de turista (fingi tão bem que parecia ser um mesmo), perguntei se meu passe de metrô valia também pro ônibus. Qual não foi a surpresa quando soube que sim. "Carajo", disse em espanhol. Se soubesse antes teria poupado um pouco minhas pernas. Desci do ônibus em Strandvägen e caminhava tranquilamente pela orla sueca, admirando as belezas naturais do país, quando me deparo com um barco. Bonito, à vela, ancorado. Sem nenhuma indicação de nome ou se era um passeio de barco pra turistas. Acesso aberto, pessoas entrando, fui atrás, esperando que alguém me parasse pra dizer o preço ou, na pior das hipóteses, ser obrigado a descascar batatas no porão (como já fizeram os Paralamas do Sucesso, quando entraram de gaiato num navio).
Andando mais e mais, vi, para minha surpresa, que era um restaurante. "Mamma mia!", pensei no mais puro italiano. E sentei-me em frente ao rio, estiquei as desgastadas pernas enquanto esperava a carne de porco com geléia e a cerveja. Não sei exatamente o que era a comida, mas tinha uma coisa doce que parecia ser geléia, e a semelhança foi suficiente para que eu a definisse como tal. "Isso é que é vida", já pensou alguma vez o bicho-preguiça. Após o merecido desjejum, comprei outra cerveja, deitei-me na grama em frente ao rio, sob a sombra de um'árvore, e tive belos sonhos.
Acordei com olhares sobre mim. As pessoas ao meu redor pareciam curiosas. Ou insanas. Sabe lá. Primeiro fui ver se nenhum pombo tinha cagado em mim. Depois pensei, são apenas malucos na folga do fim de semana. Se é que os sanatórios permitem aos malucos um passeio dominical. Enfim, deixei pra lá, terminei minha cerveja e dirigi-me ao outro barco, o albergue flutuante, onde um repouso merecido aconteceria em breve tempo, antes da balada na terra dos vikings e das loiras.
Falando nisso, durante a viagem - e até depois - dediquei várias horas à meditação sobre o porque do fetiche das moças suecas com a palavra Absolutely, relatada no post anterior. Porém a resposta fui encontrar somente hoje, enquanto escrevo esse post. Foi um estalo, que me fez, do nada, entender tudo, como nos desenhos de Escher, o holandês doidão. A resposta é mais óbvia do que parece: a bebida mais conhecida da Suécia é uma vodka? Absolute(ly)!
Continua no próximo post.
ê vidão
ResponderExcluirabsolutely
ê vidão (2)
ResponderExcluirbah... fui lendo tu espichando as pernas e pegando no sono e fui bocejando aqui... hehe...
que passeio hein...
mas não sei porque, começo a ler o relato e já vem imagens de loiras suecas na minha cabeça... por que será hein? hehehe
fico no aguardo da continuação...
abraço, manolo!
porra alemão! "A minha visão de literatura também mudou muito". PORRA! por isso tu abandonou meu blog??? porra, mas que merda... perdi o leitor n°1! Carajo, muito bom, mas fiquei curioso para saber mais das suecas alemão. não tirou foto de nenhuma tcheca das suecas???
ResponderExcluirporra alemão!