domingo, 23 de janeiro de 2011

Mochilão na Europa PARTE VI - Copenhague

Continuando o último post:

Posso dizer que finalmente estava começando a minha viagem, já que foi o primeiro trem que peguei. Não sei porque, mas todas as vezes em que andei de trem na Europa lembrava-me do famoso livro de Agatha Christie, Assassinato no Expresso do Oriente, onde o grande detetive Hercule Poirot (pronuncia-se Poarrô) desvenda um crime indesvendável. Mas felizmente, que eu saiba, ninguém morreu nos trens em que viajei. Que eu saiba.

De qualquer maneira, eu dizia que peguei o trem noturno de Estocolmo, terra das loiras, para Copenhague, terra das loiras. As outras. Existem vários tipos de loiras, quer dizer, de trens noturnos, sendo o mais legal aquele com cabines e seis beliches, três de cada lado. Se minha memória não falha, dormi na de baixo do lado direito.

A viagem nem vi passar. Quando dei por mim estavam anunciando Copenhagen, peguei minha mochila e saí, perdido como sempre. Eu deveria ter descansado, mas o fim de semana tinha me destruído de tal forma que me senti como se estivesse 24h sem dormir. Eram umas 6h30 e eu tinha fome.

Eu tinha fome, mas não tinha dinheiro. Aliás, eu tinha, mas euros e a coroa sueca. Ali a moeda era outra. Pra poder ter uns trocados da coroa dinamarquesa em mãos, tive que esperar até umas 7h30, quando então a barraquinha do câmbio abriu. Feliz, comi um sanduíche. Uma das sensações mais claras e marcantes de um ser humano, que ele certamente se lembrará pelo resto da vida, é quando enche a boca quando está com fome. É uma sensação indescritível, não sei porque ainda teimo em tentar descrevê-la.

Com um mapa em mãos, fui ao ponto de informações turísticas que também estava fechado. Tive que esperar até umas 9h pra poder perguntar onde tinha um albergue pra poder dormir um pouco, decentemente. Uma das sensações mais claras e marcantes de um ser humano, que ele certamente se lembrará pelo resto da vida, é quando ele consegue uma informação depois de horas esperando por ela. É uma sensação indescritível, não sei porque ainda teimo em descrevê-la.

Com a informação no mapa e o mapa em mãos, segui o caminho dos albergues, do mais perto ao mais longe. Com sorte o primeiro tinha vagas. Eram umas 10h quando fiz o check-in, mas os quartos só estariam livres a partir da uma. Encostei minha bagagem em um canto, mas eu sou um cara que não sabe esperar sentado, e ao invés de ficar por ali, saí pra dar uma caminhada e conhecer os arredores. Segui pela Absalonsgade, cruzei a Sønder Boulevard, peguei a Skelbaekgade e fui reto até chegar na beira do canal Sydhavnen, onde tinha um shopping. Pensei em ir ao cinema e passar o tempo assistindo aos Mercenários do Stallone, aí lembrei-me que na Europa eles dublam todos os filmes, e meu nível de dinamarquês não estava tão bom ainda.

Só sei que caminhei pacas, tirei várias fotos (que dor no coração), e enfim voltei para o albergue, onde minha cama me esperava. Uma das sensações mais claras e marcantes de um ser humano, que ele certamente se lembrará pelo resto da vida, é quando acha uma cama depois de horas sem dormir direito. É uma sensação indescritível, não sei porque ainda teimo em descrevê-la.

Com o travesseiro em mãos, dormi até umas 17h, quando resolvi caminhar. Copenhague é uma bela cidade, devo reconhecer. Uma pena que por motivos de cansaço, minha memória não se lembre muito. Uma pena que estava nublado no primeiro dia, e choveu durante todo o segundo.

Do albergue, caminhei pela Vesterbrogade, que é tipo uma avenida principal. Passei na frente do Tivoli Garden (um dos parques de diversões mais antigos do mundo), de uma estátua do escritor e poeta dinamarquês Hans Christian Andersen, pela bela praça Rådhuspladsen, enveredei pela Stroget, fiz mais um monte de voltas que não me lembro mais até chegar ao Kastellet, um belo parque onde repousa a estátua da Pequena Sereia, criação de Andersen. A Pequena Sereia, não a estátua. Os canais/rios de Copenhague dão um ar elegante à cidade. O nome em dinamarquês "København" significa Porto dos Mercadores, onde Havn está para porto, e qualquer canalzinho sem vergonha tem um Havn no final do nome. O que quer dizer que perdi o fio da meada.

Quando começou a querer escurecer, decidi voltar e passei na minha já conhecida e velha amiga estação ferroviária pra surfar na internet e comer um baguio. Na saída, já pelas 21h ou 22h da noite, ao invés de ir pelo caminho natural da Vesterbrogade, atalhei pela Halmtorvet, pois o mapa me dizia que era mais perto. E foi aí que descobri o lado escuro da cidade.

Que contarei no próximo post.

9 comentários:

  1. Suspense no relato da viajem é sacanagem!

    ResponderExcluir
  2. Bom relato.
    A propósito foi orient express que Dimitri Borja Korosec conheceu Mata Hari
    rs

    ResponderExcluir
  3. Uma das sensações mais claras e marcantes de um ser humano, que ele certamente se lembrará pelo resto da vida é que poderá retornar, em pensamento, quantas vezes quiser aos locais que visitou durante sua vida.
    Vejamos os próximos capítulos.

    ResponderExcluir
  4. E o Orient Express ainda existe, mas nem quis ver o preço...

    ResponderExcluir
  5. Ei, não demore muito para escrever o próximo post. Eu sei que você tem muito o que contar. Afinal, foram duas semanas de viagem! Dos posts que já escreveu, dá para ver que você teve histórias incríveis. Gosto muito dos seus relatos por serem divertidos e excelentes. Obrigada por permitir a minha viagem à Suécia por meio do seu blogue. Um abraço!

    ResponderExcluir
  6. "[...] o trem noturno de Estocolmo, terra das loiras, para Copenhague, terra das loiras. As outras. Existem vários tipos de loiras, quer dizer, de trens noturnos..."
    Adorei!
    Mas agora eu quero um post teu só com a análise dos vários tipos de loiras!! Merece um exclusivo!!
    E ter fome e não ter $$$, coisa super básica no mochilão! Hehehe!!
    Escreve mais!!!

    ResponderExcluir
  7. Os vários tipos de loiras não merecem um post, mas uma tese de doutorado. ;)

    ResponderExcluir
  8. hahaha... cara, dei muita risada com a repetição disso aqui: "Uma das sensações mais claras e marcantes de um ser humano, que ele certamente se lembrará pelo resto da vida, é quando enche a boca quando está com fome. É uma sensação indescritível, não sei porque ainda teimo em tentar descrevê-la".

    muito booom... hahaha...

    tah loko... vamos agora ao "lado escuro da cidade".

    ResponderExcluir

Falhe conosco: