Eu dormia tranquilo, quando ouvi um barulho. No início pensei que estivesse ainda sonhando. Parecia um motor. Depois me dei conta que o barco estaria se movendo. Acordei e percebi que era um ronco, mas muito alto. O mais alto ronco que havia sentido na minha vida.
Algumas horas antes o avião de Bruxelas aterrisou em Skavsta, uma cidade a mais ou menos 2h de ônibus de Estocolmo. A paisagem no trajeto não muda: árvores, plantações e estradas. É quando a civilização começa a aparecer. Desci na estação central, perto das 21h. Beleza, cheguei em Estocolmo. E agora?
A estação central é um caos, como já me alertou antes o meu guia "Europa de trem". A primeira coisa era achar um banheiro, mas as placas indicavam lugares inexistentes. Ou passagens secretas a mim desconhecidas. Estudei bem a situação e decidi que dava pra aguentar até chegar no barco. Nessas horas a gente aprende a observar os outros turistas. Segui de longe um casal que estava no mesmo ônibus, e logo eles acharam um local com o mapa da cidade e do metrô. Peguei o meu mapa e, enquanto fingia que lia, os segui e chegamos no metrô. "Magavilha!", pensei. Depois disso me separei deles. Poderiam chamar a polícia porque eu os seguia.
Lá fui eu pra máquina de passagens do metrô. Escolhi tudo como havia planejado, um ticket pra três dias. Mas na hora de pagar não aceitava o meu cartão. Tentei algumas outras vezes e nada. "Shit", disse em inglês. Foi então que vi um guichê de vendas. Comprei e analisei o mapa do metrô. Precisava descer em Slussen, na ilha de Södermalm, duas estações ao sul.
Quando cheguei ali, fui em direção ao rio. Na verdade não é exatamente um rio, mas um estuário em delta no qual o lago Mälaren se encontra com o mar Báltico. Estocolmo é formada por 14 ilhas e é rodeada de água. Mas àquela hora eu não podia ver a beleza da cidade. Era noite. Eu estava cansado. Eu queria ir no banheiro. Eu carregava duas mochilas pesadas. E eu estava aparentemente perdido.
Segui meus instintos e descia uma escada quando me apareceu uma loira. Sem saber o que dizer, perguntei se ela sabia onde ficava o barco. Não, não sabia. Segui adiante, e vi que o primeiro barco era algo como um restaurante-bar-pub-discoteca. À medida que eu me aproximava, o segurança me olhava mais perplexo. Perguntei onde ficava o meu barco, e ele disse que dois barcos adiante eu iria encontrá-lo. Meraviglia.
Entrei e já percebi que tudo era pequeno e estreito. "Tenho que cuidar pra não bater a..." foi o que pensei, antes de bater a cabeça. A primeira de várias vezes. Cheguei na recepção e a loira me disse "Hey!". Estranho. Já nos conhecemos? Toda essa familiaridade... respondi "Hey!". (Somente mais tarde fui descobrir que o correto é Hej e não Hey, e que isso significa Oi, Olá, e não uma hipotética intimidade que os mais ingênuos poderiam pensar).
A cada pergunta que eu fazia, a moça respondia "Absolutely!", com um largo sorriso. Ela gosta dessa palavra, pensei. Nos dias seguintes percebi que todas as suecas são assim simpáticas e sorridentes, e tem um fetiche pela palavra "absolutely". Fui pro meu compartimento, tomando todo o cuidado pra não bater a cabeça enquanto subia as escadas, no pequeno barco chamado Gustaf af Klint. Que até agora não faço a menor idéia se tem a ver com o pintor austríaco Gustav Klimt. Será?
"Absolutely!"
Era um barco transformado em albergue, e cada compartimento era cheio de beliches. Quando entrei tinha um grupo de holandeses saindo pra balada. Preferi não falar sobre futebol com eles. Malditos. O quarto não possuía outra ventilação a não ser a porta. Era quente pacas.
Desci ao convés onde fica um bar e se pode admirar o incrível cenário noturno iluminado. Pedi uma öl pela primeira vez. Öl em sueco é cerveja. Boa. Na dúvida sobre o que comer, pedi uma pizza. Sair da Itália pra comer pizza na Suécia. Acho que tô ficando doido. "Absolutely!"
O mais estranho é o balanço do barco pra lá e pra cá. Se eu não passar mal, já valeu. Relaxei um pouco, enquanto a suave brisa massageava minha careca. "A vida é boa", pensei. "Devo massagear minha careca com mais fequência". E fui dormir.
E no meio da madrugada, ouvi o ronco, que em um primeiro momento pensei que fosse o barco partindo, em uma viagem maluca ao redor do mundo. Ou me sequestrando. Mas percebi que era um dos holandeses. Depois da Copa do Mundo começo a não gostar muito desse povo. Das 4 às 7 não dormi quase nada. Mas apesar de cansativo, o dia seguinte mostrar-se-ia muito interessante.
Continua no próximo post. Absolutely!
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
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'absolutely' interesting
ResponderExcluirAbsolutely!auhauhauaha. porra alemão! isso que tu não ouviu o meu ronco! uahauhauhua. deve se massa viaja de barco... um dia ainda pretendo navegar..auhauh. porra!
ResponderExcluiraiai as suecas...huum... país bom de se visitar que deve ser... hahaha...
ResponderExcluirmas o idioma hein... que coisinha complicada...
caraca, ri aqui do "tenho que cuidar pra não bater a..."... asuhaushuahsa... muito bom...
tah legal hein... espero a continuação...
abraço ae manolo!
Ow maluco!! Voltei para o mundo virtual, só que dessa vez de forma bem careta e saudável. Dá um pulo lá pra conhecer! bejão
ResponderExcluirwww.meninaquecorre.blogspot.com
Absolutely, gosto do teu estilo, guri! E do teu senso de humor! Abraço do tio coruja... hehehehe
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